quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

INSÔNIA


Não consigo dormir,
Não quero dormir!
Lá fora o silêncio rompe a noite
Enquanto a aurora
Ainda distante na estrada do tempo
É apenas um sonho.

Porém aqui dentro não há noite
Apenas uma vontade de viver.

Não consigo dormir,
Por que dormir?
Olho para o teto,
Cruzo as mãos em baixo da cabeça
E apenas penso...

O sono não vem,
Os sonhos já estão aqui
Desde o tempo de menino,
Enquanto eu homem
Apenas velo
Ela ao meu lado
Dormindo seminua.

Tanta coisa passa pela minha mente.

Insônia!
Desejo?
Lirismo!
Sonho?

Talvez!

A noite já se vai,
O dia nasce calmo,
O mundo acorda para a rotina,
Meu filho ainda dorme tranqüilo,
E eu apenas me sinto mais velho
Sem saber se apenas sonhei.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

03:49 AM

O medo anda me rondando

Medo não sei do quê,

Talvez da morte ou da vida.

Não sei!


Minhas limitações,

Minhas necessidades

Meus temores e fragilidades

Agitam-se dentro de mim

E eu, aqui, na expectativa,

De que a chuva logo vai passar

Enquanto durmo um sono acordado

De uma noite sem fim.

sábado, 23 de outubro de 2010

DRUMMOND



Olho para o rosto do mestre
Seus olhos me encontram
Escondidos por detrás dos óculos.

Folheio a sua biografia
Encontro-me com um José
Assim como eu e tantos outros.

Tento ouví-lo entre as palavras
Cada verso é singular
Em sua forma e conteúdo.

Já não sou mais o mesmo 
O mestre também mudou
Porém não somos iguais.

Sua face enrugada não esconde
Sua alma tão simples
Sua força e sua vontade.

Cadê a platéia, cadê os aplausos?
Onde estão todos?
Onde eu estou?

Estou imerso em versos
Que não são meus
São dele, são versos de todos.

Cadê minha caneta?
Minhas mãos não sabem escrever
Folheio...

Olho a capa do livro
Já não sou mais eu
Ele continua ali me olhando.

Cada palavra um reino diferente
Ele é um rei que sabe governar
O reino das palavras é seu lar.

Versos, cartas, lágrimas,
Lindo! Belo! Sincero
Como a verdade nua e crua.

Leio, releio,folheio
O livro dele e seu lirismo
Sua vida em todos os poemas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

NÃO SEI SER POETA

Tudo o que eu queria era simplesmente um lugar tranquilo onde eu pudesse repousar a cabeça e descansar minha mente das preocupações da vida, e, quem sabe assim, adormecer e sonhar com um céu mais azul, com uma aventura entre heróis desconhecidos, ou melhor ainda, sonhar com meu grande amor. Porém descobri que não existe nada melhor do que a vida que se sabe viver, que se pode viver, que se quer viver.

A vida é apenas um meio de existir, e o sonho uma forma de refúgio, onde o subconsciente se torna tão verdadeiro quanto o mundo que vemos e em que vivemos. Será que sei viver? Será que não sei sonhar?

Não sei as respostas para minhas indagações, muito menos sei quais são as minhas dúvidas. Sei apenas que meu refúgio é secreto enquanto for apenas meu, que minha vida é daqueles que precisam de mim e as letras apenas o contorno da minha alma que se traduz nas entrelinhas de um contexto poético que é a minha própria vida.

Não sei ser poeta, mas sei dizer o que é preciso. Encontro-me em êxtase se apenas estiver com quem amo e sei o quanto é difícil amar, ainda que não conheça o amor, ainda que não entenda as palavras, ainda que o sonho seja somente sonho, pois o que faz a diferença são as minhas atitudes.

Quem sabe um dia eu encontre as palavras escondidas e enfim entenda a poesia inexplicável que se traduz em mim.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

HOJE

Hoje quero ser apenas poeta. Daqueles que poetizam sobre tudo, mas, principalmente sobre o amor. O amor que a humanidade tenta entender e não consegue. Como bem disse o poeta: "O amor é uma arte que nunca se sabe e sempre se aprende."

Hoje quero ser apenas poeta. Um poeta que saiba o que falar, para poder falar de tudo um pouco.

Penetrar surdamente no reino das palavras, onde Drummond encontrava os poemas que esperam para serem escritos.

Hoje não quero ser mais um na multidão. "Não quero ser o poeta de um mundo caduco..." Quero ser um homem de fé. Um poeta chamado José, que em meio ao caos, permaneça de pé. Um homem que saiba o que quer, que ama e é amado por seu filho e mulher.

Hoje quero apenas uma poesia que me faça companhia, até que eu possa enfim entender tudo o que não entendo, e viver a vida escrevendo as palavras que no silêncio do meu ser repousam, até que um dia já não hajam mais palavras para dizer, somente a frialdade inorgânica da terra.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Eu sou brasileiro, com muito... com muito o quê?





Hoje acordei pensando sobre quantas razões temos para bater no peito e cantar o hino nacional? Sobre quantos motivos temos para  gritar bem alto que somos brasileiros com muito orgulho, com muito amor?

Conheço vários jovens e adolescentes, cujas atitudes, pra mim, são um exemplo de como a nossa nação não nos dá motivo pra sermos patriota. O maior desejo deles é ir para fora do Brasil, pois acreditam que tudo o que é bom mesmo vem lá de fora. O pensamento em comum é: “Pra que se empenhar por um país que não nos oferece motivos para amá-lo!”. Eles estudam mas não acreditam  na educação; os bandidos se transformam em heróis, porque a polícia na verdade é do time do mal; político é tudo ladrão no submundo do Palácio Central e o Brasil é só um país subdesenvolvido de terceiro mundo.

Esse não é uma atitude isolada. A nossa juventude está sem esperança no futuro do Brasil. Os “caras pintadas” se transformaram em “caras fechadas”.

Percebi então que não precisamos sair de casa para sentirmos o fedor que exala da corrupção em que o nosso país está mergulhado, mostrando o seu estado de putrefação. O governo tenta tampar o sol com a peneira do futebol e do samba, mas deixa claro o paraíso em que o Brasil (um país de todos!)se tornou para àqueles que desejam dinheiro fácil. A política e as leis são compradas por altas somas de dólares. Escândalo após escândalo humilham a nossa nação, amorais inescrupulosos viciados pelo poder nos governam através de um governo de puro clientelismo ordinário na rotina de destemperos da nossa nação.

Que motivos temos para nos orgulharmos desse Brasil? Sua história é toda inventada, e continua sendo manipulada. Precisamos de um novo grito de independência.

Como criticar jovens que crescem vendo seu país afundar na politicagem, onde seus maiores exemplos são os governantes corruptos; os jogadores de futebol que saem do país em busca de uma vida melhor; as mulheres sem pudor, totalmente nuas, nas revistas, televisão e calçadões da cidade; professores, médicos, advogados, policiais, políticos e toda sorte de profissionais que deveriam cuidar do povo, abusando de nossas crianças; as drogas, a violência, a discriminação racial e social. Diga-me que razões temos para cantar o hino nacional? A ordem e o progresso são só poesia. Um futuro melhor para o povo brasileiro ainda não deixou de ser utopia.

Hoje eu não tenho motivo para entoar o hino nacional, pois me sinto um filho abandonado pela amada mãe gentil. Brasileiro sim, mas de orgulho ferido por uma pátria que só tem me feito sentir vergonha.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O TEMPO, A MORTE E A VIDA

Hoje quando acordei percebi que o mundo estava diferente de ontem, do tempo da minha infância. O passado ficou para trás. Eu não sou mais o mesmo, as pessoas também não são mais as mesmas, muitas até já se foram. Às vezes dá saudade dos tempos antigos, da fase da inocência. Mas o que preocupa mesmo são os tempos que virão. Se pudéssemos imaginar como seria o futuro descobriríamos que ele nunca chega e que quando nos damos conta ele já passou, e foi tão rápido que não deu tempo nem de vê-lo. Ainda bem! Talvez, se pudéssemos ver ao menos a silhueta dos tempos vindouros o desastre poderia ser maior, pois descobriríamos que o futuro não é como imaginamos. Nunca se sabe o que vai acontecer adiante, pois o mundo não para de girar e o relógio prossegue afoitamente em seu trabalho sem cessar, empurrando os ponteiros que atiram para todos os lados, como setas, nos atingindo com os mistérios do amanhã, enquanto achamos que aprisionamos o tempo em calendários, programando a vida, pré-estabelecendo a rotina, sem saber se o dia de amanhã virá. Será que estamos virando robôs ou não estamos bem programados?

Durante a noite sonhei com a morte, pensei na vida e descobri que ninguém está livre de se encontrar com o seu medo. Descobri que o homem não tem medo da morte, mas do que virá depois dela. O medo do desconhecido torna a vida uma grande produtora de adrenalina que nos arrebata aos pensamentos mais secretos sobre o outro lado da vida e nos torna conscientes de que a fatalidade mora ao lado da prudência e a morte nada mais é do que o embrião da vida, pois quando morremos é que nascemos, e quando nascemos da morte é que vivemos. Mas existe uma condição para que seja assim e ao menos que ela seja desrespeitada, então a morte pode se tornar um monstro intransponível que, mais do que assustar, pode possuir a vida e torná-la extinta por toda a eternidade.

Tentamos dominar o tempo e esquecemos que ele está prestes a ter um fim. Enjaulamos nosso medo da morte no recôndito de nosso ser tentando exonerar a incerteza do que virá com uma fé que muitas vezes não é suficiente para nos trazer a certeza sobre o amanhã e a vida, e esquecemos que no porão de nossa alma existe um monstro maior ainda, que somos nós mesmos. O nosso eu que quer pecar e se satisfazer dos desejos mais repugnantes que se possa desejar, se contrapondo a santidade e a justiça que ainda pode envolver o ser humano. É esse monstro que percebe o tempo acabando e se lança como um animal selvagem sobre o monturo da irracionalidade humana e se alimenta do opróbrio do ser mais importante da criação. Porque somos assim?

A vida é apenas uma experiência que serve para nos moldar a um padrão inexistente nesse mundo. Muitos tentaram com vãs filosofias, dogmas e doutrinas, teorias, misticismo e muitas outras formas, padronizar a vida que nem mesmo eles entendiam. Criaram regras, estabeleceram hierarquias, desrespeitaram o sagrado e mataram uns aos outros, fizeram terrorismo na tentativa de manipular a vida que desconheciam. Não adianta tentar entender, é preciso viver, e viver cada dia como se fosse o único, na busca de compreender a si mesmo, em seu verdadeiro conceito, na plenitude de sua intensidade. A vida está dentro de cada um e nada mais é do que a liberdade da alma de poder, em sua verdadeira essência, experimentar emoções latentes em si mesma.

O mundo quer controlar a vida, a morte quer seu fim e a vida quer somente ser vivida. Ontem eu dormi mais novo e amanheci mais velho. O espelho não me deixa enganado. A agitação da rotina me convence disso e o tempo apenas passa e me leva com ele, como um prisioneiro, acorrentado a ele com passagem só de ida, rumo ao encontro da bendita morte, o fim da gestação de um ser e o início de uma “desconhecida” vida, de um novo indivíduo. Já não penso nas coisas de menino, nem vivo como um. Minha semente já está plantada nessa terra e dará continuidade a vida, a essa vida que eu quero entender... e morrer... e finalmente viver, sem o monstro da morte me perseguindo, sem as incertezas do amanhã.

A vida que foge de nossas mãos é a mesma que nos conduz como cativos do tempo que passou, que vivemos e do tempo que virá. O tempo que queremos controlar é o mesmo que corrói nossa existência, deteriorando o vigor, corrompendo a saúde, e que nos arremessa nos braços da morte. E a morte?! Ah! A morte nada mais é do que a libertação. Deixamos de ser homens empalhados, almas sem feitio, mentes com falhas para enfim gozar da plenitude da existência em sua totalidade, experimentando de forma definitiva a integralidade do ser.

Contudo sem interferir no tempo individual, cada um precisa viver seu próprio tempo, pois basta à cada dia o seu próprio mal, deixando nas mãos do Criador o poder de decidir a hora do nascimento para a eternidade ou a morte definitiva de cada indivíduo, sabendo que isso é o resultado de uma escolha feita nessa vida, a de se permitir então ser controlado somente pelo dono do tempo, da morte e da vida. Mas quando foi que ajoelhamos? Quando foi que chamamos Deus de pai? Na verdade, não somos bons filhos!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A ROSA E A BORBOLETA


Finalmente seu pai havia acabado mais um quadro. Estava ansioso para ver o que ele pintara. Era sempre assim, gostava de ficar no atelier vendo aqueles quadros, imaginando a história de cada um e quando o pai deixava, lambuzava alguma tela com tinta também, mas somente enquanto esperava-o terminar suas obras de arte.

Gostava de quase todos. Algumas pinturas ele não entendia, outros eram muitíssimo lindos, e sempre que o pai entrava ali, corria para ver como seria a mais nova preciosidade que nasceria daquelas mãos que com tanto carinho, muitas vezes lhe abraçava e que com o mesmo sentimento acariciava aquelas telas.

Mas naquele momento, lá estava ele, pendurado na parede, o mais novo quadro, recém saído da sensibilidade de seu jovem pai, perto da janela. A tinta ainda fresca, não impedia que a beleza contida na tela fosse admirada. Seu pai com um olhar sereno caminhou em sua direção, como que perguntando: “Gostou?”, e em silêncio deu-lhe um beijo nas bochechas saindo em seguida, deixando-o sozinho no atelier.

Como em estado de hipnose, Ele ficou, ali, parado, quieto, em silêncio, apenas contemplando a bela rosa branca, delicadamente pintada naquele quadro. Era uma rosa feita de papel de cartas. Cada pétala era uma carta e muito provavelmente, cartas de amor de algum romântico apaixonado. O que estaria escrito naquelas pétalas? Poemas, declarações de amor, carta de despedida, não sabia. Sabia apenas que era uma singela flor e que estava sozinha naquele quadro, solitária em seus segredos, silenciosa em suas pétalas, a espera somente de um lugar ideal para desabrochar na imaginação daqueles que a contemplariam.

De repente o vento de final de tarde soprou suave invadindo o ambiente pela janela, balançando a cortina, trazendo em sua companhia uma pequena borboleta, que com toda a beleza de seu vôo, vasculhou cada canto daquele pequeno cômodo, como que escolhendo um lugar para sossegar as suas asas.

Ele, o menino, apenas acompanhava com os olhos o belo voo da borboleta, tentando adivinhar onde ela iria pousar, e num estalo, imaginou como aquela rosa solitária ficaria feliz com a companhia de uma borboleta pintada ao seu lado no quadro, com quem, assim, poderia compartilhar os seus segredos de amor. Correu então para falar com seu pai e pedir-lhe que fizesse conforme imaginara.

Porém quando voltou ao atelier, quão grande surpresa ambos tiveram, pois com uma nova lufada, o vento suavemente empurrou a borboleta que, com sua fragilidade, se deixou vencer pela força do vento e pelas artimanhas do destino, acabando assim, presa na tinta fresca, ao lado da rosa e livre na ingênua imaginação do menino.

terça-feira, 27 de julho de 2010

NO CAMINHO DO POETA

No caminho do poeta há sempre uma poesia,
Numa imagem que ficou gravada na memória,
Na história de alguém que acha que não tem história,
Em alguém que só deseja ser ouvido,
Em alguém que mesmo mudo pode falar com o olhar,
Em alguém que necessita de um verso simples para descomplicar a vida,
Em cenas que aos outros passam despercebidas,
Em olhares que se cruzam e não conseguem se enxergar,
Em palavras que se propagam no vazio
E se alojam no coração do poeta,
Na letra de uma canção que ninguém nunca cantou,
Nas palavras de quem está apaixonado
Ou no silêncio de quem nunca amou.

No caminho do poeta há sempre uma poesia,
Pois sempre há um fato pra ser contado,
Um ato inconsistente para ser percebido,
Uma lição de vida para se aprender e ser praticada
Mas que parecem tão banais em meio à correria que é
O nosso cotidiano, a nossa realidade,
Há sempre regras para serem discutidas,
Há sempre normas para serem cumpridas,
E ordens que somente desordenam a vida.

No caminho do poeta há sempre uma poesia,
Há sempre barreiras para se ultrapassar,
Há sempre experiências que mostram ao poeta
Que na vida há coisas que não se pode mudar
Pois a segunda-feira só chega após cada domingo,
O sol só dá seu espetáculo quando estamos dormindo,
Da amizade ao amor basta apenas um beijo,
Um simples gesto pode atrair mil desejos,
A flor só desabrocha na estação certa,
A brisa só entra se a janela estiver aberta,
Mas vale uma sincera lágrima que um falso sorriso,
Todos somos réus do nosso próprio juízo,
A morte só chega quando nossa missão se completa,
E a vida só vira verso no caminho do poeta.